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Psicologia, processos de subjetivação e prática clínica

  • Foto do escritor: Espaço Teares
    Espaço Teares
  • 2 de mai. de 2018
  • 2 min de leitura



"Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.

Ambos existem; cada um como é."

Fernando Pessoa


A psicologia se constituiu por meio de diferentes discursos e práticas ao longo do tempo. A raiz da palavra psico vem do grego psykhé que significa sopro de vida, alento, alma, vida, ser vivo. Pensar a psykhé é uma atividade antiga, inspirada por diferentes perguntas, curiosidades e inquietações. Que por sua vez produziram diferentes teorias, intervenções, tecnologias, sempre afetadas pelos planos social, cultural, político, econômico, estético. Este movimento foi configurando territórios variados, paisagens, cores, acidentes, distâncias, fronteiras, porosidades. Quando falamos em psicologia estamos nos referindo a um universo dinâmico, complexo, múltiplo e em movimento!

E o que interessa à psicologia? Creio que sua matéria-prima é a subjetividade: “as teorias em psicologia são diferentes tentativas de cartografar as paisagens da subjetividade, e os procedimentos, diferentes modos de interferir em seus relevos” (ROLNIK, 1997, p.13). E sobre tal produção, gosto da perspectiva que situa a subjetividade como modo de ser que sofre variações e está em movimento, construindo diferentes combinações a partir das forças que a atravessam. Constituem-se dobras, territórios subjetivos, figuras de subjetividade, processualidades em fluxo. Movimentação que provoca desestabilização, dor, mal-estar, estranhamento e... criação!


O processo de escuta da dor e do desmanchar de “identidades” no espaço clínico é um desafio a nós, terapeutas, que nos convoca ao encontro em nós mesmos desse processo inacabado e permanente que configura a subjetivação. Suportar a instabilidade, dialogar com as forças (tudo que afeta), inventar novas paisagens, construir parcerias, aprender a desaprender pré-conceitos e certezas que negam o acaso e o imprevisível em nome do controle, de uma vida “feliz”.

Dimensão ética da clínica que implica produção de mundos, afirmação de valores, potência criadora, encontro com nossa condição finita e trágica. Que valores produzimos? Modos de vida abertos a experimentações, conexões e variações? Em que medida acolhemos em nós o empobrecimento da existência por medo? Ávidos em negar a transformação e a produção da diferença em nós em troca de promessas, garantias de bem-estar, saúde, felicidade...


Afirmamos que os processos de subjetivação estão mergulhados em cenários sociais, culturais, políticos, estéticos que lhes desenham, formando uma paisagem subjetiva. Nesta perspectiva, a prática clínica se constrói pela abertura com saberes além das teorias psicológicas, recursos que ampliam nossa capacidade cartográfica e possibilitam a construção de (novos) sentidos.


Precisamos forjar em nós variadas sensibilidades e neste sentido as produções culturais são potentes aliadas! Literatura, cinema, poesia, pintura, música, teatro. Abrir porosidades para expressões do trágico, do belo, do acaso, da alegria! Fabricar teares que misturem psicologia, filosofia, arte e outras conexões.


ROLNIK, S. Psicologia: subjetividade, ética e cultura. In: SILVA, A.E., NEVES, C.A.B., RAUTER, C. (orgs.) Subjetividade: questões contemporâneas. São Paulo: Hucitec, 1997. p. 13-21. (Coleção Saúde Loucura. Volume 6)


Sundfeld, A. C.


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